
Rodrigo Figueiredo
Rodrigo introduzindo o campo da psicolinguística e sua tese sobre AoA.
A história de Rodrigo
Rodrigo Figueiredo, ganhou coragem e decidiu mudar de Portugal para o Reino Unido a fim de prosseguir com a sua carreira académica em Psicologia, na Middlesex University. A tese de mestrado teve como objetivo investigar o efeito da Idade de Aquisição (AoA) no que diz respeito à memorização de palavras e imagens no Português Europeu.
Entrevista conduzida por Yoshi Emanuël
Olá Rodrigo! Admiramos a vontade que demonstraste em partilhar a história sobre a tua tese de mestrado no campo da psicologia. Vamos começar por descobrir mais sobre a tua formação académica?
Durante o meu curso de mestrado em Psicologia Aplicada na Middlesex University (Reino Unido), fui apresentado aos principais ramos da psicologia tais como psicologia da educação, psicologia clínica, aconselhamento e psicoterapia, neuropsicologia entre outras. Aplicámos as teorias e as estruturas abordadas na licenciatura, mas na sua vertente mais prática.
Entendido! Fico feliz por saber que já terminaste a tua formação e que obtiveste o teu grau de mestrado em Psicologia Aplicada (MSc). Durante os teus estudos, tiveste de encontrar um determinado tema do teu interesse para elaborar a tua tese de mestrado. Poderias falar-nos um pouco mais sobre o tema?
A tese foi a coisa mais desafiante que fiz até agora no campo académico. Não foi fácil porque eu também estava a trabalhar a tempo inteiro num restaurante italiano. Quando apresentei a minha proposta à minha coordenadora, senti-me extremamente sortudo. Ela é considerada uma das melhores investigadoras do departamento de psicologia da universidade. O seu trabalho de investigação está maioritariamente focado na psicologia cognitiva, neuropsicologia e psicolinguística.
Psicolinguística dizes tu? Podes explicar aos nossos leitores o que isso engloba?
A psicolinguística, ou psicologia da linguagem, é o estudo dos aspectos psicológicos e neurobiológicos que permitem ao ser humano aprender, usar e compreender a linguagem, tanto falada como escrita. Como é que o cérebro memoriza e aprende línguas? Como é que o cérebro processa e armazena as palavras? Como se desenvolve um léxico? Este campo não era do meu conhecimento até conhecer a minha coordenadora. Pareceu um tiro no escuro, porque até então eu não sabia nada acerca do tema. No entanto, ela inspirou-me. É estranho explicar, mas naquele momento senti-me capaz de fazer qualquer coisa, uma vez que ela é tão apaixonada pela sua área de estudo. Disse a mim próprio: "Muito bem, vamos aceitar este desafio e experimentar algo fora da minha área de conhecimento". A sua investigação principal centra-se no fenómeno da Idade de Aquisição (AoA), que é um termo específico da psicolinguística.
Poderias elaborar mais acerca da Idade de Aquisição (AoA)?
Claro que sim! A idade de aquisição (AoA) é uma variável psicolinguística que se refere à idade em que uma palavra é tipicamente aprendida. Esta variável afeta a velocidade de leitura de palavras e a investigação tem demonstrado que palavras adquiridas mais cedo têm uma vantagem sobre palavras adquiridas mais tarde na vida. Por exemplo, a palavra 'boneca' é tipicamente associada a palavras adquiridas mais cedo na vida, enquanto a palavra 'dentista' é geralmente adquirida mais tarde. Devido a toda a sua investigação neste campo, ela sugeriu-me este tópico. Uma vez que a sua formação de investigação tem sido predominantemente realizada em turco, uma vez que é a sua língua materna, e as colaborações com outras ortografias como o russo tornaram interessante ver e identificar semelhanças e diferenças entre ortografias (inglês-russo, inglês-turco).
Depois de discutir as ideias principais sobre o tema, ela mencionou que a investigação em português europeu era muito reduzida ou inexistente relativamente ao tema. "Porque não tira partido da sua língua materna? Estude este fenómeno na sua própria língua", disse ela.
“Com esta dissertação aprendi muitas coisas. Fui colocado sob pressão e fui desafiado como nunca antes. Aprendi coisas sobre a minha própria língua que não conhecia antes.”
Rodrigo Figueiredo
E agora acerca da tese!
Muito bem. A partir desse momento, decidi elaborar a minha tese sobre AoA em português europeu. Utilizei tanto palavras como imagens para verificar se seria possível encontrar alguma diferença. Há grandes debates sobre este tema. Por exemplo, a língua inglesa. A forma como se pronunciam as palavras em inglês é bastante diferente da forma como se escrevem (ortografia). Existe uma discrepância entre a forma oral e a forma escrita. Isso não acontece no caso do turco, a forma como se escreve é também a forma como se diz. Tendo esta ideia em mente, o meu objectivo era descobrir se isso também acontecia no português europeu.
Na língua turca, a minha coordenadora de tese descobriu que as pessoas tendem a lembrar-se mais facilmente e muito mais depressa de palavras que aprenderam mais cedo na vida. Utilizei então a ideia como hipótese principal: Queria confirmar se isto era verdade ou não no português europeu. Preparei as tarefas experimentais compreendendo um conjunto de estímulos formados a partir de um conjunto de 50 imagens, e respetivos nomes (palavras). Como seres humanos, tendemos a recordar facilmente as imagens, porque há mais informação para o cérebro se focar. Dividi os meus participantes num grupo apenas para as palavras e num grupo apenas para as imagens. Finalmente, realizámos uma análise estatística para comparar ambos os grupos e analisar melhor os respetivos resultados.
O que é que os resultados mostraram?
Os resultados foram bastante controversos e algo inesperados. Descobrimos que no caso do português europeu este se coloca entre o inglês e o turco, daí a ser considerado uma ortografia intermédia. Como discutimos anteriormente: o turco tem uma ortografia muito clara (a forma como se fala, é a forma como se escreve). No entanto, o inglês é uma língua bastante opaca (a forma como se fala, nem sempre é a forma como se escreve).
No português europeu, apesar da sua clara ortografia, muito semelhante à turca, existem algumas exceções. A nossa estrutura gramatical é bastante complexa. Nomeadamente, existem muitos sons e caracteres especiais que fazem toda a diferença na forma como se pronunciam certas palavras. Talvez isto explique porque é que os portugueses são geralmente muito bons a aprender línguas. A riqueza em sons e gramática pode definitivamente atuar como um fator benéfico. Ainda assim, é necessário realizar mais investigação para compreender estes resultados mais profundamente.
Descobrimos também que as pessoas recordavam as imagens muito melhor comparativamente às palavras, em geral. Embora estes resultados tenham mostrado a presença de um efeito de interação e demonstrado que existe algum tipo de efeito: é necessária mais investigação para compreender plenamente o papel destes resultados relativamente ao processamento da memória.
E quanto a ti pessoalmente? Estás interessado em ir mais longe no campo da psicolinguística?
Bem, sim, eu gostaria de prosseguir com este tema, mas também estou interessado noutros tópicos. Este campo da psicolinguística foi-me apresentado apenas pela minha coordenadora. Não o conhecia anteriormente, e espero que com o meu doutoramento em psicologia clínica, possa vir a fazer algo diferente e ser mais prático com os meus esforços académicos.
Há ainda muitas coisas a aprender, porque o nosso cérebro ainda é um mistério. Descobrimos coisas incríveis e as pesquisas nunca param, ainda há muita coisa à espera de ser descoberta. Com esta dissertação aprendi muitas coisas. Fui colocado sob pressão e fui desafiado como nunca antes. Aprendi coisas sobre a minha própria língua que não conhecia antes. Por isso, acho que valeu a pena.

Interested in more content? You can find EQ on: